- Intriga: Ação considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma ação fechada.
- Ação principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.
- Ação secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.
A ação é constituída por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos:
- encadeamento ou organização por ordem cronológica
- encaixe, em que uma ação é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma
- alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente
A ação pode dividir-se em:
- apresentação ― é o momento do texto em que o narrador apresenta as personagens, o cenário, o tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimentos (fatos).
- desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois personagens). A paz inicial é quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva.
- clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insustentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva.
- desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito.
Tempo
- Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados.
- Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a ação se desenrola.
- Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito.
- Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador. Este pode escolher narrar os acontecimentos:
- por ordem linear
- com alteração da ordem temporal (anacronia), recorrendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);
- ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada;
- a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).
Personagens
Roland Barthes, além de retomar a importância que os clássicos davam à acção, avança ao afirmar que “não existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres humanos. Um animal pode ser personagem (Revolução dos Bichos), a morte pode ser personagem (As intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária.Relevo das personagens
- Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua actuação é fundamental para o desenvolvimento da acção.
- Antagonista: Que atua em sentido oposto; opositor; adversário. Personagem que é contra alguém ou algo; adversário, opositor
- Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da acção.
- Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante..
Composição
- Personagem modelada, redonda ou esférica: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
- Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa.
- Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou social.
- Personagem colectiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.
- Direta
- Autocaracterização: a própria personagem refere as suas características.
- Heterocaracterização: a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por outra personagem.
- Indireta: O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou da sua fala, traçar o seu retrato.
Espaço ou ambiente
- Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem.
- Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambiente social, representando, por excelência, pelas personagens figurantes.
- Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pensamentos e sentimentos.
Narrador
- Participação
- Heterodiegético: Não participante.
- Autodiegético: Participa como personagem principal.
- Homodiegético: Participa como personagem secundária.
- Focalização: É a perspectiva adotada pelo narrador em relação ao universo narrado. Diz respeito ao MODO como o narrador vê os factos da história.
- Focalização omnisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.
- Focalização interna: o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens, daí resultando uma diminuição de conhecimento.
- Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.
- Focalização neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista( este modo não existe na prática, apenas na teoria).
- Focalização restritiva: A visão dos fatos dá -se através da ótica de algum personagem.
- Focalização interventiva : O autor faz observações sobre os personagens( típica dos romances modernos - Machado de Assis )
Sucessão e integração
Claude Bremond, ao definir narrativa, acrescentará a sucessão e a integração como essenciais para a narratividade: "Toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessão de acontecimento de interesse humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão não há narrativa, mas, por exemplo, descrição, dedução, efusão lírica, etc. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não relacionados".como história, como Totalidade de significação
A totalidade de significação é apontada por Greimas como outro elemento fundamental da narrativa. Ainda que aparentemente o leitor não entenda um texto, há de ter nele uma significação para que se configure narração.Em prosa e verso
Apesar de aparecer comumente em prosa, a narração pode existir em versos. Os exemplos clássicos são as epopeias, como a Odisseia, ou os romanceiros, como o Romanceiro da Inconfidência. Mas poemas como O Caso do Vestido e Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, são verdadeiras narrativas em versos, com acção, personagens, sucessão, integração e significação.Senhora, de José de Alencar,
O Poço, de Mário de Andrade, Bons contos para ler e analisar
- A Cartomante, de Machado de Assis,
- O Retrato Oval, de Edgar Allan Poe,
- Suje-se Gordo, de Machado de Assis,
- A Quinta História, de Clarice Lispector,
- O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
Características:Situa seres e objetos no tempo (história).Estrutura:- Introdução: Apresenta as personagens, localizando-as no tempo e no espaço.
- Desenvolvimento: Através das ações das personagens, constrói-se a trama e o suspense que culmina no clímax.
- Conclusão: Existem várias maneiras de se concluir uma narração. Esclarecer a trama é apenas uma delas.Recursos:Verbos de ação, discursos direto, indireto e indireto livre.O que se pede:Imaginação para compor urna história cativante que entretenha o leitor, provocando expectativa. Pode ser romântica, dramática ou humorística.A narrativa deve tentar elucidar os aconteCimt0s, respondendo às seguintes perguntas essenciais:O QUÊ? - o(s) fato(s) que determina(n) a história;
QUEM? - a personagem ou personagens;
COMO? - o enredo, o modo como se tecem os fatos;
ONDE? - o lugar ou lugares da ocorrência
QUANDO? - o momento ou momentos em que se passam os fatos;
POR QUÊ? - a causa do acontecimento.Observe como se aplicam no texto de Manuel Bandeira esses elementos:Tragédia brasileiraMisael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.Manuel Bandeira· O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.· Quem? Misael e Maria Elvira.· Como? O envolvimento inconseqüente de um homem de 63 anos com uma prostituta.· Onde? Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.· Quando? Duração do relacionamento: três anos.· Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.Quanto à estruturação narrativa convencional, acompanhe a seqüência de ações que compõem o enredo:· Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;· Complicação: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;· Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;· Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros.
SEGUEM ALGUNS MODELOSO dia que virou um diaOs primeiros raios de sol, brandos como um leve toque, anunciam um novo dia de uma preguiçosa segunda-feira. Maria acorda, ingere algum pão e café, despede-se da família e se põe a caminhar em direção ao ponto de ônibus. Não tão longe dela, José executa as mesmas ações, porém, não se sabe se desperdiçou os mesmos momentos de adeus.Maria cumpre mais uma jornada de trabalho e, cansada, roga a volta a casa. Entra então, em um lotação, cujos passageiros a rotina á a fez conhecer. José, bandido inveterado, passa o mesmo dia a caminhar, tramar e agir. Todavia, finda-se a data para ele também e, não estando satisfeito com as finanças adquiridas, envolve-se em dantescos pensamentos.Vem lá o transporte com Maria. O mesmo é avistado pelo marginal, que logo conclui seu plano iminente de execução. E o faz. O aceno com a mão indica ao motorista que pare o veículo e o deixe entrar. As vistas de Maria mudam imediatamente de direção e cruzam-se com as de José. Este segue, como quem mede os passos, ao encontro daquela. Fita-lhe mais uma vez os olhos e estende-lhe os braços. Aquelas magras mãos tocam a moça e, brutalmente, puxam-na para o mais perto de si: tem uma refém.José anunciou o assalto e obrigou o condutor a parar o cano. Endiabrado, mostra a sua arma e faz com que Maria a sinta na nuca. O tumulto chama, com brevidade, a atenção do povo e, consequentemente a da polícia. E nesta hora que começam algumas negociações. Com prontidão chega a imprensa, que transforma José em o José. bem como Maria em a Maria.Passadas já muitas horas, o bandido põe em prática um novo plano: tentar sair do ônibus com a sua refém. Ouve-se um tiro, que atinge Maria. Vendo que iria ser baleado, José dispara mais três tiros de sua arma, que ferem mortalmente as costas da moça. O criminoso é dominado e posto na viatura, onde sorrateiramente morre. A defunta vira manchete, heroína. Passa-se uma semana e aquela foi apenas mais uma segunda-feira em uma grande metrópole.Diógenes D’arce C. de LimaAlém do espelho, lembrançasUm dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples objeto dc minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e trazia, à tona, as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora, misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso, pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a ascensão profissional.Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.Luana Stephanie de MedeirosUma lição de vidaLembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária urna paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência. Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o ritmo eterno.Nikos KazantzakisO enganoUm estudante, em viagem ao interior, ao passar por uma loja, entrou e comprou um presente para sua namorada. Escolheu um lindo par de luvas. Depois pediu para embrulhar Na hora de embrulhar, a moça cometeu uni engano, trocando o par de luvas por uma calcinha. O estudante, não tomando conhecimento, mandou o embrulho e a seguinte carta:Vitória, 5 de maio de 1976.Querida, sabendo que no próximo dia 12 é dia do seu aniversário, resolvi mandar-lhe um presente; sei que irá usar, pois todo o tempo em que estivemos juntos, nunca a vi usando. Não sei se você vai gostar da cor e do modelo, mas a moça da loja experimentou e ficou boa.É um pouco larga na frente, mas ela disse que era para a mão entrar melhor e os dedos moverem-se mais á vontade. É bom que, depois de usá-la, vire-a ao avesso e ponha um pouco de talco para evitar o mau cheiro. Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que eu irei pedir uni dia.Aqui termino, mandando um beijo bem profundo naquilo que o presente irá cobrirSenhora, de José de Alencar,
O Poço, de Mário de Andrade, Bons contos para ler e analisar
- A Cartomante, de Machado de Assis,
- O Retrato Oval, de Edgar Allan Poe,
- Suje-se Gordo, de Machado de Assis,
- A Quinta História, de Clarice Lispector,
- O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
Características:Situa seres e objetos no tempo (história).Estrutura:- Introdução: Apresenta as personagens, localizando-as no tempo e no espaço.
- Desenvolvimento: Através das ações das personagens, constrói-se a trama e o suspense que culmina no clímax.
- Conclusão: Existem várias maneiras de se concluir uma narração. Esclarecer a trama é apenas uma delas.Recursos:Verbos de ação, discursos direto, indireto e indireto livre.O que se pede:Imaginação para compor urna história cativante que entretenha o leitor, provocando expectativa. Pode ser romântica, dramática ou humorística.A narrativa deve tentar elucidar os aconteCimt0s, respondendo às seguintes perguntas essenciais:O QUÊ? - o(s) fato(s) que determina(n) a história;
QUEM? - a personagem ou personagens;
COMO? - o enredo, o modo como se tecem os fatos;
ONDE? - o lugar ou lugares da ocorrência
QUANDO? - o momento ou momentos em que se passam os fatos;
POR QUÊ? - a causa do acontecimento.Observe como se aplicam no texto de Manuel Bandeira esses elementos:Tragédia brasileiraMisael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.Manuel Bandeira· O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.· Quem? Misael e Maria Elvira.· Como? O envolvimento inconseqüente de um homem de 63 anos com uma prostituta.· Onde? Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.· Quando? Duração do relacionamento: três anos.· Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.Quanto à estruturação narrativa convencional, acompanhe a seqüência de ações que compõem o enredo:· Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;· Complicação: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;· Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;· Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros.
SEGUEM ALGUNS MODELOSO dia que virou um diaOs primeiros raios de sol, brandos como um leve toque, anunciam um novo dia de uma preguiçosa segunda-feira. Maria acorda, ingere algum pão e café, despede-se da família e se põe a caminhar em direção ao ponto de ônibus. Não tão longe dela, José executa as mesmas ações, porém, não se sabe se desperdiçou os mesmos momentos de adeus.Maria cumpre mais uma jornada de trabalho e, cansada, roga a volta a casa. Entra então, em um lotação, cujos passageiros a rotina á a fez conhecer. José, bandido inveterado, passa o mesmo dia a caminhar, tramar e agir. Todavia, finda-se a data para ele também e, não estando satisfeito com as finanças adquiridas, envolve-se em dantescos pensamentos.Vem lá o transporte com Maria. O mesmo é avistado pelo marginal, que logo conclui seu plano iminente de execução. E o faz. O aceno com a mão indica ao motorista que pare o veículo e o deixe entrar. As vistas de Maria mudam imediatamente de direção e cruzam-se com as de José. Este segue, como quem mede os passos, ao encontro daquela. Fita-lhe mais uma vez os olhos e estende-lhe os braços. Aquelas magras mãos tocam a moça e, brutalmente, puxam-na para o mais perto de si: tem uma refém.José anunciou o assalto e obrigou o condutor a parar o cano. Endiabrado, mostra a sua arma e faz com que Maria a sinta na nuca. O tumulto chama, com brevidade, a atenção do povo e, consequentemente a da polícia. E nesta hora que começam algumas negociações. Com prontidão chega a imprensa, que transforma José em o José. bem como Maria em a Maria.Passadas já muitas horas, o bandido põe em prática um novo plano: tentar sair do ônibus com a sua refém. Ouve-se um tiro, que atinge Maria. Vendo que iria ser baleado, José dispara mais três tiros de sua arma, que ferem mortalmente as costas da moça. O criminoso é dominado e posto na viatura, onde sorrateiramente morre. A defunta vira manchete, heroína. Passa-se uma semana e aquela foi apenas mais uma segunda-feira em uma grande metrópole.Diógenes D’arce C. de LimaAlém do espelho, lembrançasUm dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples objeto dc minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e trazia, à tona, as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora, misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso, pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a ascensão profissional.Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.Luana Stephanie de MedeirosUma lição de vidaLembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária urna paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência. Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o ritmo eterno.Nikos KazantzakisO enganoUm estudante, em viagem ao interior, ao passar por uma loja, entrou e comprou um presente para sua namorada. Escolheu um lindo par de luvas. Depois pediu para embrulhar Na hora de embrulhar, a moça cometeu uni engano, trocando o par de luvas por uma calcinha. O estudante, não tomando conhecimento, mandou o embrulho e a seguinte carta:Vitória, 5 de maio de 1976.Querida, sabendo que no próximo dia 12 é dia do seu aniversário, resolvi mandar-lhe um presente; sei que irá usar, pois todo o tempo em que estivemos juntos, nunca a vi usando. Não sei se você vai gostar da cor e do modelo, mas a moça da loja experimentou e ficou boa.É um pouco larga na frente, mas ela disse que era para a mão entrar melhor e os dedos moverem-se mais á vontade. É bom que, depois de usá-la, vire-a ao avesso e ponha um pouco de talco para evitar o mau cheiro. Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que eu irei pedir uni dia.Aqui termino, mandando um beijo bem profundo naquilo que o presente irá cobrir
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